MOLWICK

Memória humana e sistemas de informação

O sistema de informação do cérebro detecta o interesse, o estudo em dias, a tentativa de recordar e regras de mnemotécnicas. Problemas com a memória.

Copertina del libro della Memoria. Sarcofago dell'antico Egitto con disegni colorati.

MEMÓRIA, LINGUAGEM E OUTRAS CAPACIDADES INTELECTUAIS

TEORIA COGNITIVA GLOBAL

Autor: José Tiberius

 

 

4. Memória humana

O gestor da memória, a inteligência, utiliza abundantes métodos e processos para classificar, organizar e racionalizar a informação contida na memória. Em seguida vamos expor alguns deles, dos muitos que devem existir.

 

4.a) Memória automática e memória dirigida

Até agora falamos dos mecanismos automáticos do funcionamento da memória, sem dúvida, pode influenciar-se que informação se grava e qual não.

Não é nenhuma novidade o fato de que quanto mais se estuda um tema, mais se retém. Ainda que o funcionamento da transferência da memória a curto prazo para a de médio prazo seja inconsciente, o cérebro detecta o interesse em função do número de vezes que se trabalhou com um tema.

Um salto importante é quando se trabalhou com um tema em dias diferentes, tentando memorizar certa informação, visto que o gestor da memória encontra referências ao tema nas capas mais superficiais da memória a médio prazo, por isso existirá automaticamente uma tendência a gravar mais fixamente ou, o que é a mesma coisa, nas seguintes capas da memória a médio prazo.

Outro salto produzir-se-á quando o gestor da memória requer a informação gravada e o cérebro se apercebe das limitações da informação, entendendo que seria conveniente uma melhor disponibilidade da informação, tendendo, portanto, a melhorá-la na memória a médio prazo. Além disso, o cérebro começará a fixá-la no sistema multidimensional, criando as referências de que necessite.

Uma ajuda importante para esta memória a médio prazo, quando se trata de passar num exame, pode ser facilitar algumas referências artificiais para a sua melhor retenção. Em particular, refiro-me a determinadas regras mnemotécnicas.

Exemplos úteis de regras mnemotécnicas podem ser marcar as datas, números, percentagens e informação semelhante de caráter muito matemático com uma cor especial, autores com outro, definições com outro, etc., mas sem abusar no número de cores ou noutras regras mnemotécnica!

Em qualquer caso, as regras mnemotécnicas não há que forçá-las nunca, se funcionam, bem e senão, deveriam ser neutras e não prejudicar a memória. Um exemplo concreto pode ser a linha desenhada em cima da data 25.7.52, deveria ajudar a reter dita data, mas não deve ser condição necessária para lembrar-se da citada data.

 

Regras mnemotécnicas
Regras mnemônicas e esquema de cores para auxiliar a memória matemática ou exata.

No entanto, por vezes, apesar do nosso esforço e saber que temos capacidade suficiente, parece que a memória não responde, que se nega a trabalhar. Os motivos de problemas com a memória mais comuns podiam ser:

  • Não dormir o suficiente.

  • Excessivo consumo de álcool e, em menor medida, de tabaco.

  • Falta real de interesse.

  • O estudo realiza-se com muitas tensões, o que limita notavelmente a capacidade utilizada pelo gestor da memória tanto quando se está acordado como a dormir.

  • A informação não se vai utilizar no futuro ou não como se pretende memorizar. Um exemplo típico seria a aprendizagem de línguas que não se vão utilizar ou a tentativa de aprendê-las em modo de memória matemática quando estes se desenvolvem em modo de memória semântica.

As tensões dos parágrafos anteriores não se devem confundir com a situação dos estudantes quanto têm vários exames muito juntos ou um exame de uma matéria muito extensa.

Antes do exame, estão muito nervosas, excessivamente nervosas; além disso parece-lhes que não sabem nada. Estes nervos são causados pela memória a curto prazo que se encontra sobrecarregada para o seu estado normal, está-se a exigir-lhe um enorme esforço e, seguramente, a tensão nervosa é a única forma de levar a cabo a sua função nestas circunstâncias.

Então não se preocupe se apenas a noite antes de um teste demora a adormecer muito tempo e não conseguir dormir. O cérebro não quer limpar a memória de curto prazo, porque está cheio de informações sobre a próxima revisão e, portanto, para tentar evitar ou diminuir a fase de sono profundo.

Em qualquer caso, sempre me pareceu ser um erro grave estudando toda a noite antes de um teste porque a relação entre memória de curto prazo e médio prazo é muito fraco.

Outro efeito que acentua os nervos é que não se pode deixar de pensar na matéria objeto de exame, juntamente com a sensação mencionada de não saber nada.

No entanto, uma vez conhecidas as perguntas os nervos desaparecem, vários conceitos desaparecem da mente e esta começa a encher-se de dados relacionados com as perguntas e quanto mais pensamos nalguns deles mais dados continuam a aparecer, sempre e quando realmente se saiba a matéria, noutro caso…

Convém assinalar a relação existente entre os motivos citados anteriormente de um possível multifuncionamento da memória com os motivos que podem provocar disfunções no sistema de tomada de decisões, que comentamos num título independente deste livro.

Esta coincidência pode explicar-se pensando no efeito que pode ter sobe a memória se, de cada vez que estudamos ou pensamos num tema, o tentamos arquivar, consciente ou inconscientemente, num conjunto de referências distinto.

 
 

4.b) Estruturas ou conjuntos lógicos pré-estabelecidos

No estudo do desenvolvimento de respostas rápidas da inteligência, dissemos que a potência do cérebro aumenta notavelmente com a sua automatização. Uma das suas causas era que a informação de entrada se coloca diretamente nos campos preparados dos subprogramas ou funções e uma vez recebidos todos os dados, se disparava automaticamente a operação concreta.

Em definitivo esse desenvolvimento implica o de umas estruturas ou campos pré-estabelecidos para o tratamento da informação. No sistema de informação global, estas mesmas estruturas utilizar-se-ão para o armazenamento ou arquivo da informação.

O desenvolvimento e aperfeiçoamento destas estruturas do sistema de informação do cérebro também podem ter caráter dirigido, colaborando o indivíduo de forma ativa na eficácia do processo.

Os programas de computadores utilizam continuamente esta técnica organizando a informação em conjuntos de campos personalizados, que em última instância, são matizes de dados.

 
 

4.c) Memorizar só o contrário à lógica

Um dos métodos mais eficazes do sistema de informação do cérebro é consequência da regra de não memorizar aquilo que se pode deduzir facilmente por aplicação da lógica. Mas neste caso, a lógica há-de entender-se como uma lógica particular e de caráter pessoal associada ao acontecimento ou dado que se pretende saber que se sabe.

Efetivamente, o truque consiste, não em saber, mas sim em saber que se sabe. O que não é a mesma coisa.

Espero conseguir explicar-me melhor com um exemplo simples, que me permitirá responder a uma pergunta sem ter nenhuma informação na memória com a única exceção de se sei que sei ou não. Sempre a mesma referência no sistema de informação da memória a longo prazo! E uma referência muito simples!

  • Pergunta: Quem tem o cabelo mais comprido, a Susana ou o Júlio?

    • Suposto 1: Não tenho associada nenhuma referência na memória.

      • Resposta: Não sei, posso imaginar que… mas não sei.

    • Suposto 2: Sei que sei porque, de alguma maneira, esta pergunta, não a resposta! Tem associada a referência citada na minha memória a médio prazo.

      • Resposta: A Susana. (O que se supõe correto)

O processo seguido pela minha mente foi o seguinte, como sei que sei porque de este extremo me informa a memória, procuro a lógica particular que tivesse aplicado para arquivar esta informação.

Neste caso seria: “Em condições normais uma mulher tem o cabelo mais comprido do que um homem”. Logo a resposta é Susana.

As vantagens deste método são por um lado, que a referência é muito simples e já existe na memória a médio prazo, a única coisa que é necessário fazer é ativá-la para um caso concreto. E por outro, que na maioria dos casos, por aplicar a lógica particular dos casos mais comuns, não fará falta sequer mudar de signo a referência, que seria o que faríamos no caso de que o Júlio tivesse o cabelo mais comprido.

Uma implicação mais deste método, se sabemos que sabemos e não nos lembramos que signo tem a referência, por defeito assumiremos que é o signo normal da lógica particular. Não é necessário lembrar-se do normal!

Se fosse necessário recordar as diferentes possibilidades, tratar-se-ia do tipo de memória matemática e este requer mais trabalho ou recursos do cérebro. Este método admite variantes, mas está especialmente indicado para ser utilizado em modo intuitivo do gestor da memória.