MOLWICK

Efeito Flynn, regressão à média e outros estudos estatísticos

Regressão à média e outros estudos estatísticos relativos a testes de inteligência de famílias. Efeito Flynn e modelos econométricos complexos.

Capa do livro O Estudo EDI. Crepúsculo sobre o mar com nuvens, Galiza.

 

EVOLUÇÃO E DESENHO DA INTELIGÊNCIA

O ESTUDO EDI

Autor: José Tiberius

 

 

2. A regressão à média e outros estudos estatísticos

No título relativo à inteligência, ao comentar a sua estrutura genética assinalam-se os argumentos a favor e contra a natureza hereditária da mesma.

Crescimento ao longo do tempo do QI
O Modelo Globus é a análise de sensibilidade com o Modelo Social da evolução da inteligência em uma geração.

Os referidos argumentos ajudam a entender as razoes da permanência da controvérsia nesta matéria, derivadas tanto da sua complexidade intrínseca como das diferentes premissas iniciais com as que se efetuam os estudos sobre ela.

A seguir citam-se as posturas mais comuns.

2.a) Impossibilidade técnica por falta de uma definição única

Esta é uma postura um tanto negativa.

2.b) Aleatório e regressão à média

Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin, indicou a necessidade de recorrer a métodos estatísticos para contrastar teorias; assim, na sua obra maior “Natural Inheritance” (1989) introduziu o conceito de “linha de regressão” a partir de um estudo comparando as estaturas de pais e filhos.

Na análise descritiva dos dados, Galton observou que os pais altos tinham filhos altos, mas não tão altos em média e que os pais baixos tinham filhos baixos, mas não tão baixos em média, produzia-se o que ele denominou uma regressão à média.

Talvez os fenômenos em que se produz a famosa regressão à média possam ser explicados com uma maior precisão com uma abordagem tipo análise multifatorial.

2.c) Correlações inferiores a 50%

Richard J. Herrnstein e Charles Murray no seu livro “The Bell Curve” mencionam muitíssimas referencias a estudos sobre a inteligência humana e para o desenvolvimento das suas ideias tomam como correlação aproximada os 50%, ficando-se num termo intermédio entre os partidários da influência genética e os da influência meio-ambiental.

Também não há acordo sobre a estabilidade destas capacidades ao longo da vida, ainda que parece que está aceite que a influência meio ambiental é maior em idades precoces, seguindo uma influência decrescente até à maturidade, contrariamente ao que se podia esperar.

2.d) Altas correlações em estudos com gêmeos

Para tentar resolver as controvérsias foram-se realizando numerosos trabalhos, a maioria dos quais se basearam no estudo de gêmeos idênticos ou monozigóticos.

Gêmeos idênticos têm uma correlação de até 0.87 em relação à inteligência; em irmãos não gêmeos essa correlação oscila em torno a 0,55. Estes dados fazem parte de uma experiência de Jensen, em 1972, cuja conclusão básica era que 80% da variância numa população, em relação a números de quociente intelectual, pode ser explicada por fatores herdados.

Logicamente, se esta conclusão estivesse correta teríamos que assumir que a inteligência é uma capacidade basicamente de caráter hereditário ainda que não pré-determinado pela combinação genética de acordo com as leis de Mendel.

Convém recordar aqui o conceito de hereditariedade em sentido estrito que vem determinado pela relação entre a correlação observada e a esperada para um determinado caráter. Nos casos em que a correlação esperada seja menor à unidade produzir-se-á uma correção da correlação em alta observada para a determinação do grau de hereditariedade.

2.e) Modelos econométricos complexos

Também se realizaram estudos de grande complexidade estatística para tentar resolver a controvérsia. Dois deles chamaram-me a atenção pelas suas conclusões. Acho que um é eminentemente teórico e outro prático.

O artigo "Heritability Estimates Versus Large Environmental Effects: The IQ Paradox Resolved" de William T. Dickens e de James R. Flynn afirma ter solucionado o problema mediante a introdução de variáveis com desfasamento temporal. A meu ver, não é surpreendente que se utilizamos variáveis já de si correlacionadas e lhe acrescentamos uma certa retroalimentação pode chegar-se a resultados “estatísticos” altos.

Por outro lado, o artigo tenta explicar o efeito Flynn ou ganhos observados nos coeficientes de inteligência ao longo das distintas gerações. Em concreto de 20 pontos entre 1952 e 1982 em alguns países.

Outro estudo, discriminando fatores pré e pós-natais, do Colégio Médico da Universidade de Pittsburgh, chega à conclusão de que o meio ambiente materno pré-natal exerce uma poderosa influência sobre a inteligência.